(Auto)biografia e autoria no caldeirão do Bruxo
Resumo
O presente trabalho dispõe-se primeiramente
a situar o "mito autobiográfico", lançado por Mário de
Alencar logo após o falecimento de Machado de Assis.
Seguida tanto por críticos quanto por biógrafos, a ideia
de que o escritor se projetaria em suas personagens
perdura até o silenciamento que lhe impõe a crítica
modernista. Rever, entre outros, os trabalhos de
Augusto Meyer e Lúcia Miguel-Pereira, elaborados nos
anos de 1930, permite demonstrar que a reabilitação da
perspectiva biográfica desempenha importante papel
na futura difusão da obra machadiana. Até a década
de 1960, embora revigorado por visões filosóficos existencialistas
e sob vigilância da nova crítica exercida
nas universidades, o ângulo biográfico não deixa de
assinalar uma das dimensões de análise à produção de
Machado - leitura cognitiva, existencial ou expressiva.
A essa vem somar-se, a partir de finais dos anos 60
do século XX, a leitura mimética, representativa ou
sociológica. Por sua vez, a leitura construtiva ou
formal, marcada por abordagens interdiscursivas do
discurso narrativo e inaugurada com o influxo dos
aportes pós-estruturalistas no Brasil, vai conviver
com uma nova dimensão para estudos do ficcionista
carioca - a transitiva ou relacional, focada na crítica e
na recepção da obra junto ao leitor. Os dois últimos
tipos de leitura mencionados permitem indicar, nos
romances de Machado, uma presença nada gratuita de
gêneros (auto)biográfi cos reconhecidos como tais, seja
como procedimento dialógico e/ou interdiscursivo,
seja como pilar estruturante dos textos ficcionais.
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