Do plano transcendental para o plano histórico: críticas de Adorno à estética kantiana
Resumo
O trabalho pretende abordar uma divergência central da estética de Adorno em relação à estética kantiana. Segundo Adorno, tal como ele, Kant pensa que a constituição do conceito de arte se deve a sua separação da realidade. Esta interpretação é decorrente do fato da estética kantiana fundamentar o prazer estético num jogo livre entre as faculdades da imaginação e do entendimento, com independência da faculdade de desejar. Com isto, Kant teria livrado a arte de tornar-se apenas um apêndice do âmbito da autoconservação, ou seja, a teria pensado como se opondo à totalidade social na qual a autoconservação é determinante. Entretanto, apesar da concordância no aspecto aludido, Adorno discorda de Kant na medida em que propõe que a separação entre arte e realidade se deu historicamente, enquanto que para Kant restringe-se ao âmbito transcendental. Nosso trabalho pretende enfocar justamente esta passagem do transcendental para o histórico procurando problematizar que modelo conceitual está em jogo na “dialética negativa” de Adorno que permite afirmar que o transcendental não é o fundamento da objetividade filosófica, mas é resultado do processo histórico.