Estado, colonialidade e necropolítica: os mecanismos hegemônicos de controle racial
Resumo
Este artigo analisa o Estado capitalista brasileiro de maneira crítica, enfatizando sua gênese autoritária responsável pela perpetuação de desigualdades raciais. Desde a sua formação, o Estado capitalista brasileiro utilizou-se de violências e mecanismos ideológicos para assegurar a hegemonia dos grupos dominantes, o que resultou num sistema necropolítico contra a população negra, racializada. A análise bibliográfica explora ainda a influência de pensadores como Gramsci, Foucault e Quijano a fim de evidenciar o papel do sistema educacional, bem como das políticas públicas (ou sua ausência) na reprodução dessas desigualdades sociais e raciais, não somente em contexto nacional, mas também global. Por fim, discute-se as tensões existentes após a redemocratização com a finalidade de transformar a realidade da desigualdade racial brasileira.
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