Estado, colonialidade e necropolítica: os mecanismos hegemônicos de controle racial

Palavras-chave: Estado, Relações Étnico-Raciais, Políticas Públicas, Negro, Educação

Resumo

Este artigo analisa o Estado capitalista brasileiro de maneira crítica, enfatizando sua gênese autoritária respon­sável pela perpetuação de desigualdades raciais. Desde a sua formação, o Estado capitalista brasileiro utilizou-se de violências e mecanismos ideológicos para assegurar a he­gemonia dos grupos dominantes, o que resultou num siste­ma necropolítico contra a população negra, racializada. A análise bibliográfica explora ainda a influência de pensado­res como Gramsci, Foucault e Quijano a fim de evidenciar o papel do sistema educacional, bem como das políticas públicas (ou sua ausência) na reprodução dessas desigual­dades sociais e raciais, não somente em contexto nacional, mas também global. Por fim, discute-se as tensões existen­tes após a redemocratização com a finalidade de transfor­mar a realidade da desigualdade racial brasileira.

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Biografia do Autor

Mauricio de Novais Reis, Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil

Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UESC). Integrante do Grupo de Pesquisa em Política e História da Educação (GRUPPHED/UESC).

Cristiane Batista da Silva Santos, Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil

Doutora em Estudos Étnicos e Africanos (CEAO/UFBA). Professora titular no Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Educação (PPGE/UESC). Integrante do Grupo de Pesquisa em Política e História da Educação (GRUPPHED/UESC).

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Publicado
2025-05-26
Como Citar
de Novais Reis, M., & Batista da Silva Santos, C. (2025). Estado, colonialidade e necropolítica: os mecanismos hegemônicos de controle racial. Especiaria: Cadernos De Ciências Humanas, 22. https://doi.org/10.36113/especiaria.v22i0.4578
Seção
Artigos de Fluxo Contínuo