Realidade e imaginário burocrático: entre exercício espiritual e metáfora da visão
Resumo
A burocracia atua através de uma codificação radical do imaginário. O esvaziamento e a desregulamentação da dimensão temporal própria da existência é o primeiro passo dessa operação de subserviência do espírito, como muito bem compreendeu Kafka baseado nas considerações desenvolvidas por Arthur Holitscher em Amerika Heute und Morgen. A Lei, dessa maneira, paira nesse espaço vazio, enquanto pura forma (sem conteúdo), no qual corresponde a queda do sujeito sobre o plano culpado de não conformidade programática. Nos exercícios espirituais di Loyola se apresenta uma rigorosa disciplina do tempo existencial do ponto de vista quantitativo, proporcionando-lhe o preâmbulo para o processo de mecanização integral da vida. O capitalismo burocrático herdará a partir desta visão apenas o sentimento generalizado de culpa, mas sem disponibilizar nenhum dispositivo de salvação. Kafka, em Metamorfosi, analisa com lucidez essa degeneração da vida em máquinas infernais, em que o gesto humano - em sua repetitividade - cria sua própria punição.
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