A controvérsia entre Habermas e Albert sobre a intransitividade das ciências humanas
Resumo
A questão da intransitividade das ciências humanas remonta à controvérsia entre compreender (Verstehen) e elucidar (Erklären), que tem origem na reação de Dilthey à pretensão de Stuart Mill de integrar as “ciências morais” dentro de um projeto de ciência unificada. Tal controvérsia adentrou o século XX, tendo, entre seus episódios, o debate sobre a lógica das ciências sociais em que se confrontaram as teses de Karl Popper e Theodor Adorno e seus discípulos, respectivamente, Hans Albert e Jürgen Habermas. No presente artigo, apresentaremos os principais elementos da controvérsia entre Habermas e Albert sobre a epistemologia das ciências humanas. Coerente com a tradição hermenêutica, Habermas postula que os critérios de objetividade das ciências naturais não se aplicam às ciências humanas, já que o pesquisador não pode assumir uma postura neutra e anular sua vivência individual no processo de investigação, pois a mesma é a condição de possibilidade do estudo da história e da sociedade, ao prover ao pesquisador uma conexão entre a experiência individual e coletiva. Para Habermas, portanto, os critérios de objetividade nas ciências humanas e nas ciências naturais não podem ser reduzidos a um mesmo padrão de cientificidade. Albert, por seu turno, postula que a realidade a que se refere nosso conhecimento é um todo conexo, sendo as fronteiras que separam as diferentes disciplinas resultado apenas de uma divisão científica do trabalho. Além disso, tanto cientistas sociais quanto naturais têm valores, mas que a ciência tem sua neutralidade axiológica garantida por seus procedimentos metodológicos. Albert vê o corte epistemológico operado por Habermas como resultado de seu dualismo metafísico entre mundo da vida, como esfera inacessível da subjetividade, e mundo objetivo. A polêmica entre Habermas e Albert permite reconstruir um importante debate que marca a história da filosofia contemporânea e que permanece aberto até hoje.
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