Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação

A série “Polêmica da semana” do canal Porta dos Fundos

Anderson de Carvalho Pereira — ter, 03 jun 2025 00:00:00 -0300

Este artigo mostra um estudo sobre o quadro “Polêmica da semana”, do grupo humorístico Porta dos Fundos. Para isto, apresenta a análise de três episódios da série conforme a tipologia discursiva (lúdico, polêmico e autoritário) definida por Orlandi (2001). A análise indica que nos recortes analisados os efeitos de humor e a argumentação decorrem do jogo com os sentidos estabelecidos entre os interlocutores e que podem ser lidos conforme a tipologia acima mencionada. Do ponto de vista psicanalítico, o campo do horror, estranhamento, medo e interdição, ao ser mobilizado, provoca o humor. Os rumos da análise permitiram revisitar outras questões contemporâneas do cotidiano brasileiro como as fake news, no âmbito do debate político.

Informante em potencial e epistemicamente responsável

Rodrigo Freitas Costa Canal — ter, 03 jun 2025 20:18:15 -0300

Discutimos dois modos de compreender a regulação da boa argumentação centrada nas práticas de argumentadores: o modelo da posição epistêmica de Alvin Goldman, segundo o qual o argumentador é um informante com potencial veritativo, e a reconstrução deste último elaborada por Christoph Lumer, segundo o qual o argumentador é um informante, mas que essa autoridade epistêmica implica em uma dependência epistêmica por parte do ouvinte e implica em um tipo peculiar de responsabilidade epistêmica. Ambas as propostas fazem parte do que se denomina hoje de Abordagem Epistemológica da Argumentação. Epistemólogos do argumento lidam com o problema acerca da função e do proposito padrão, em que tipicamente sustentam que a argumentação deva possuir funções, propósitos de natureza epistêmica (verdade e aceitabilidade etc.). Metodologicamente, justificam a tese funcional com critérios que buscam delimitar as condições ideais da boa argumentação, como a argumentação deve funcionar para atingir os propósitos e realizar tais funções.

A eficácia da argumentação do hiperenunciador no discurso estético-religioso de Frei Antonio das Chagas

Ricardo Celestino, Jarbas Vargas Nascimento — ter, 03 jun 2025 20:36:56 -0300

Este artigo examina a eficácia da argumentação do hiperenunciador no discurso estético-religioso de Frei Antonio das Chagas, com base na interação de duas perspectivas teórico-metodológicas, ou seja, a Análise do Discurso de linha francesa (AD) e a Argumentação no Discurso. A aproximação teórica entre essas duas disciplinas, ou seja, a aliança da AD, nas perspectivas de Maingueneau com a Argumentação no discurso, na abordagem de Amossy, permite-nos uma análise efetiva e produtiva do hiperenunciador como um dispositivo enunciativo-argumentativo intrínseco ao discurso. Embora seja uma categoria complexa, levamos em consideração o lugar que a instância hiperenunciador ocupa para Maingueneau, tendo em mente que o discurso é, efetivamente, dotado de uma dimensão argumentativa, utilizada pelo enunciador para alcançar a adesão do co-enunciador.

Análise linguística/semiótica em perspectiva dialógica a favor da leitura

Amanda Lopes Bezerra, Manassés Morais Xavier — ter, 03 jun 2025 20:39:46 -0300

Este trabalho apresenta uma proposta didática voltada para turmas de 1º ano do Ensino Médio, fundamentada nas contribuições da análise linguística/semiótica em perspectiva dialógica e nos estudos sobre a argumentação para o trabalho com o gênero artigo de opinião. A partir de debates que promovam reflexão crítica sobre as escolhas composicionais, sejam elas verbais ou visuais, os estudos e a percepção dos enunciados é ressignificado, situando-os no contexto real de uso e nas interações sociais que influenciam os sentidos. Ao tratar a linguagem como um fenômeno vivo e histórico, a proposta incentiva que os estudantes percebam não apenas as estruturas formais, mas também as intenções discursivas, os valores subjacentes e as implicações socioculturais dos enunciados. Dessa forma, o ensino de Língua Portuguesa transcende o estudo das regras gramaticais, enfatizando o desenvolvimento da competência crítica e argumentativa.

Projeto de vida ou de dívida?

Márcia Socorro Ferreira de Andrade Silva, Maria Eliza Freitas do Nascimento — ter, 03 jun 2025 00:00:00 -0300

A desigualdade socioeconômica envolve os sujeitos em diferentes tramas discursivas. Este trabalho analisa discursos que fomentam efeitos do biopoder que visibilizam sujeitos endividados, ressignificando o lugar da dívida através da governamentalidade, destacando também estratégias argumentativas de patemização. Fundamenta-se em Foucault e Amossy (2011, 2020). O corpus é parte da materialidade discursiva midiática da campanha do banco Santander intitulada “De vida”. Realiza-se uma arqueogenealogia das práticas discursivas, sem desconsiderar as emoções suscitadas no processo argumentativo pelo locutor sobre seu alocutário. Observa-se que os discursos produzem vontades de verdade sobre sujeitos endividados que estabelecem modos de subjetivação alicerçados em relações de poder. Essas discursividades da campanha midiática se baseiam também no pathos pela promessa de uma vida melhor, com foco numa governamentalidade como parte do dispositivo que visa naturalizar o endividamento financeiro do sujeito enredado na rede argumentativa de apelos às emoções do alocutário.

A narrativa em perspectiva argumentativa

Washington Elias Paes — ter, 03 jun 2025 20:42:59 -0300

Este artigo investiga a encenação literária a partir do pressuposto de inerência de uma orientação argumentativa na narrativa, buscando responder ao seguinte questionamento: “Como a crônica (re)orienta o olhar do leitor?”. Para tanto, investiga-se uma crônica de Gregório Duvivier, objetivando, a princípio, descrever a orientação de seu modo de organização, com base nos pressupostos teóricos da Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso, articulada à Análise Argumentativa do Discurso e à Teoria Literária, e por meio de pesquisa bibliográfica. Por fim, organizado em três partes, a saber: apresentação da Semiolinguística, discussão sobre a orientação argumentativa no modo narrativo de organização do discurso e descrição do funcionamento dessa orientação em uma crônica de Duvivier, este texto visa demonstrar o funcionamento de alguns dos mecanismos pelos quais a crônica pode agir sobre seus leitores e, desse modo, contribuir com a formação de leitores capazes de inferir as abordagens de mundo presentes nas narrativas.

Dinâmicas de grupo e mapeamento de argumentos na argumentação dialógica de estudantes universitários

Maria Agustina Tuzinkievicz, Nadia Soledad Peralta, Mariano Castellaro — ter, 03 jun 2025 20:44:43 -0300

Este estudo investiga como diagramas de argumentos e o tamanho do grupo afetam as interações argumentativas entre estudantes universitários que realizam tarefas acadêmicas. A argumentação, essencial na psicologia educacional, ajuda a resolver conflitos sociocognitivos por meio de engajamento crítico e interação verbal. O desenho quase-experimental envolveu 100 estudantes do primeiro ano de Psicologia e Psicopedagogia, alguns dos quais utilizaram uma ferramenta de mapeamento de argumentos. A análise de dados revelou que a mediação melhorou a geração e a integração de argumentos, mas não a co-construção ou a oposição. Grupos não mediados apresentaram níveis mais altos de co-construção e oposição. Os resultados sugerem que ferramentas visuais aprimoram a argumentação dialógica, embora as limitações do estudo incluam uma amostra pequena e a falta de dados não verbais. Pesquisas futuras devem explorar essas dinâmicas em contextos diversos.

Argumentação e metáfora

Evandro de Melo Catelão, Ilaria Cennamo — ter, 03 jun 2025 20:46:16 -0300

Indo além de uma simples associação por similaridade e abrangendo uma forma de apreender a realidade por meio de estereotipias, o emprego de metáforas como argumento contribui à percepção, tratamento dos sentidos e orientação de pontos de vista. Nesse contexto, propomos analisar, em um corpus constituído pelo discurso de Giorgia Meloni ao Conselho Italiano, o uso da inteligência artificial GPT na tradução e ampliação dos sentidos de metáforas empregadas. Fundamentamo-nos teoricamente e metodologicamente na ATD, utilizando um tradutor automático para observar se as metáforas usadas por Meloni mantêm a orientação do ponto de vista do italiano para o português, assim como a performance da ferramenta em tarefas de refinamento. Os resultados das análises indicam que, tanto no original quanto nas traduções, as metáforas, mesmo com pequenas variações, mantiveram seus sentidos inalterados e a ferramenta mostrou-se eficaz para (re)ativar e refinar o ponto de vista implícito no discurso institucional.

Um estudo da dimensão argumentativa em narrativas de tesouro enterrado de comunidades quilombolas do Baixo Tocantins

ter, 03 jun 2025 20:48:03 -0300

O presente trabalho pretende situar a narrativa de enterro como um discurso constituído de uma dimensão argumentativa. Os discursos que apresentam essa dimensão como característica, apesar de não possuírem a intenção explícita de convencer, acabam modificando modos de ver/sentir ou levando à reflexão (Amossy, 2020). As narrativas de enterro são histórias contadas oralmente dentro de uma comunidade e contam a saga de uma pessoa escolhida para buscar um tesouro revelado por uma força sobrenatural (Fernandes, 2007). O corpus analisado, coletado por Borges (2023), foi estudado à luz da Teoria da Argumentação no Discurso (Amossy, 2020). Os procedimentos de análise consistiram em investigar quais estratégias o narrador mobilizava para conferir credibilidade à sua história. Essas análises permitiram demonstrar que as narrativas de enterro possuem uma dimensão argumentativa, caracterizada com base nos recursos mobilizados pelo narrador para modificar o estado de crença do ouvinte, sem necessariamente solicitar sua adesão a uma tese.

Modo de organização do texto argumentativo em redações nota mil do Enem

Jeferson Silva da Cruz, Sulemi Fabiano Campos — ter, 03 jun 2025 20:49:21 -0300

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) publica anualmente a Cartilha do Participante, que orienta a produção da redação, baseada na necessidade de atender às cinco competências avaliativas. Neste trabalho analisamos o modo de organização do texto argumentativo, com foco na Competência 3: "Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista" (Brasil, 2022, p. 16). O corpus é composto por duas redações nota mil do Enem, de 2018 e 2019, analisadas à luz da Semiolinguística de Charaudeau (2019). Os resultados indicam que essas redações seguem uma lógica argumentativa padronizada, fundamentada no modelo textual mais conhecido como "redação esqueleto", que se alinha ao projeto de texto que é esperado pela matriz avaliativa do Enem, revelando relações de semelhança no modo de organização do discurso argumentativo. Conclui-se que essa padronização pode limitar a criatividade e a originalidade dos participantes, promovendo um discurso uniformizado.

O ensino de argumentação como prática social de linguagem nos anos iniciais do ensino fundamental

Stepheson Ray de Oliveira, Ivoneide Bezerra de Araújo Santos-Marques — ter, 03 jun 2025 20:51:06 -0300

Este artigo tem por objetivo discutir o ensino de argumentação a partir do trabalho com um projeto de letramento voltado para o ensino da leitura e escrita com vistas ao exercício da cidadania e à defesa da vida. Teoricamente, nossa discussão está ancorada nos estudos de letramento de vertente sociocultural, na pedagogia crítica e nos estudos que tratam a argumentação na perspectiva interacional como prática social de linguagem. Metodologicamente, analisamos dados recortados de uma dissertação de mestrado, cuja investigação foi realizada na área da Linguística Aplicada. A pesquisa de vertente etnográfica foi desenvolvida em uma abordagem qualitativa e interpretativista, configurando-se como uma pesquisa-ação crítica. Concluímos que trabalhar a argumentação como prática social de linguagem em projetos de letramento favorece a formação crítica dos estudantes; oportuniza a vivência da cidadania para além dos muros da escola; estimula a participação social e política dos educandos.

Queermuseu

Priscila Santos Lopes, Lucas Nascimento — ter, 03 jun 2025 20:52:40 -0300

Neste trabalho, analisamos um artigo de opinião publicado por Xico Graziano, no jornal Poder360. O conteúdo do texto orbita em torno da polêmica entre político-religiosos e defensores da liberdade artística sobre a exposição Queermuseu — Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, realizada na capital gaúcha, em 2017. Assim, neste artigo, objetivou-se apresentar a caracterização do desacordo profundo entre as partes implicadas. Para tanto, o estudo está subsidiado na perspectiva da Análise Dialógica da Argumentação, proposta por X (2018), fundamentada em Mikhail Bakhtin (2011; 2018; 2020) e em Chaїm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (2014 [1966]), em diálogo com Ruth Amossy (2017) e Marc Angenot (2008). Outrossim, foram utilizadas as contribuições da Análise do Discurso Digital (Paveau, 2013a, Paveau, 2013b; Paveau, 2021). Sob tais perspectivas, foi possível analisar o desacordo no artigo de opinião, em que os argumentos dos opositores soam irracionais e inaceitáveis para os artistas argumentantes.

Discursos de estudantes de pedagogia sobre a argumentação no ensino de ciências

Stefany Joyce Ferreira Avansini, Leandro Siqueira Palcha — ter, 03 jun 2025 20:54:08 -0300

Este estudo discute o papel da argumentação em aulas de Ciências, destacando aspectos discursivos no processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa foi realizada com uma turma do curso de Pedagogia, em uma universidade pública, composta por 28 estudantes que participaram de uma atividade didática sobre argumentação, desenvolvida na disciplina de Metodologia de Ensino. O objetivo da análise é compreender os discursos de estudantes de Pedagogia acerca do papel da argumentação, buscando identificar como percebem as posturas pedagógicas no ensino de Ciências. O referencial teórico-metodológico e analítico fundamenta-se na Análise de Discurso de vertente francesa. Os resultados foram organizados em três categorias discursivas, a saber: complementares, intercomplementares e inter-relacionais. Eles indicam a necessidade de ampliar os debates sobre argumentação, considerando uma perspectiva de inter-relacional. Conclui-se que é essencial incorporar mais discussões sobre a argumentação nos cursos de formação de professores, especialmente nos cursos de Pedagogia.

A guerra pela imunização contra a covid-19 no Brasil no ano de 2021

Alessandro Alves dos Santos, Luciana da Silva Gomes — ter, 03 jun 2025 20:55:31 -0300

O presente artigo propõe examinar como o discurso midiático d’O Globo, por meio de uma narrativa midiática roteirizada, forja, como intencionalidade, uma dada realidade a partir de um encaminhamento argumentativo subjacente ao texto, pautado em certos imaginários sociodiscursivos de descrença e de impunidade política em relação à imunização contra a Covid-19. A nossa hipótese norteadora sobre o fato é o de que a famosa mídia desejaria denunciar e inculcar, coletivamente, a postura de negligência por parte do Governo Federal ante o combate da pandemia do coronavírus. Para tanto, adotaremos a Teoria Semiolinguística (Charaudeau, 1992, 2001, 2004, 2012, 2017, 2019) em diálogo com outros autores, dente eles, Azeredo (1990) e Mira Mateus et al (1983), dando enfoque à operação linguística de causação, especialmente, às relações de restrição, de conjunção e de causalidade hipotética, tendo, como corpus de análise, quatro notícias de capa publicadas nesse jornal durante o primeiro semestre de 2021.

Ângela Diniz no banco dos réus

Patrícia Rodrigues Tomaz, Max Silva da Rocha, João Benvindo de Moura — ter, 03 jun 2025 20:56:50 -0300

Este trabalho, inserido nos estudos retórico-discursivos da linguagem, tem como principal objetivo analisar a construção argumentativa do ethos, pathos e logos no discurso de defesa de Doca Street, no caso do assassinato da socialite mineira Ângela Diniz, em 1976. A análise centra-se nos argumentos empregados pelo advogado de defesa, Evandro Lins e Silva, e na forma como ele constrói as imagens do acusado e da vítima, explorando estratégias discursivas para persuadir o auditório. Para alcançar esse objetivo, fundamentamos nossa investigação nos meios de prova propostos por Aristóteles (ethos, pathos e logos), com auxílio da Semiolinguística de Patrick Charaudeau para desvelar os imaginários sociodiscursivos. A análise revela que a defesa constrói uma imagem favorável de Doca Street, ao tempo em que desqualifica a figura da vítima, estabelecendo uma dinâmica discursiva que busca orientar a recepção do júri e do público.